… aterram as coleções cruise? As casas de moda justificam as escalas das suas pré-coleções com base numa premissa criativa. Em Tóquio, por exemplo, a Dior apresentou propostas de inspiração Manga para a pré-outono/inverno 2015. No entanto, outra importante associação é a este propósito apontada pelos media especializados: tudo isto acontece em ambientes férteis para as vendas.
Cruise, resort, pré, off season – as quatro designações são válidas para a nova frente de ataque do luxo: as coleções que surgem entre as duas estações tradicionais dos desfiles de moda (ver Tendencialmente resort).
O desfile da pré-primavera/verão 2017 da Gucci não irá exigir muitas milhas, pelo menos à imprensa britânica. Ainda sem local exato ou outros pormenores revelados, a casa de moda italiana anunciou na semana passada que Londres iria substituir Milão como palco de apresentação da coleção cruise proposta por Alessandro Michele – que acontecerá a meio do próximo ano.
Porquê Londres? «Londres é “hot”», afirmou François-Henri Pinault, CEO do grupo Kering – dono de casas como Gucci, Balenciaga, Stella McCartney ou Alexander McQueen – depois de adquirir a maior fatia do bolo da marca britânica Christopher Kane, em 2013.
De acordo com a consultora Bain & Company, o apetite londrino pelo luxo é ultrapassado apenas por capitais como Paris ou Nova Iorque, enquanto o Reino Unido como um todo surge em terceiro lugar, depois dos EUA e da China, nos números das vendas de luxo, muito graças ao turismo internacional.
Numa demonstração – ainda que de mau gosto – desta propensão para o luxo em “terras de sua majestade”, no início deste mês, a loja da Gucci em Sloane Street foi assaltada (um prejuízo de 100 mil libras, aproximadamente 142 mil euros), sendo que o foco dos ladrões foi a cobiçada bolsa Dionysus, a mais recente criação de Alessandro Michele e um verdadeiro “hit” nas vendas desde que foi apresentada na passerelle em fevereiro último (ver Literatura de bolsa).
Posto isto, o apetite do retalho parece estar intimamente ligado aos banquetes do luxo na apresentação das suas pré-coleções. Elas viajam para onde está o dinheiro e, consequentemente, os clientes.
A assistência destes desfiles é composta – além das habituais presenças de celebridades e da obrigatória comparência da imprensa – de mulheres reais que realmente querem aquelas roupas, independentemente dos preços. E é por isso que as casas de moda estão a encaminhar os seus desfiles para Nova Iorque, Califórnia, ou mesmo Tóquio – o desfile ali encenado pela Dior em dezembro de 2014 teve uma assistência de 1200 pessoas.
Também Monte Carlo, paraíso do luxo, esteve na rota das casas de moda pela mão da Dior em 2013, enquanto a Louis Vuitton fez aí escala no ano passado, para apresentar a sua pré-coleção para a primavera/verão de 2015.
Apesar de as marcas citarem a criatividade que emana naquele destino como resposta à pergunta: “Porquê aqui?”. A verdade é que, em última análise, no Mónaco há casinos – onde se ganha dinheiro – e lojas – onde se gasta o dinheiro ganho –, não sendo uma localização particularmente rica em inspiração.
No que ao luxo ambulante diz respeito, a Chanel será provavelmente a insígnia que mais se tem afastado de casa. Miami, Veneza, Singapura, Dubai, Seul e, agora, Havana. A 3 de maio de 2016, Karl Lagerfeld vai erguer o seu centro de operações em Cuba, a maior produção de moda levada àquele território desde que as relações diplomáticas com os EUA foram restabelecidas (ver O real e o imaginário de Cuba). Ainda que, neste caso e face à estagnação económica do país, o combustível da deslocação possa verdadeiramente ser “a criatividade”.
Etiquetas: Desfiles, Pré-coleções, Primavera/Verão 2017