Em 2014, ao que pareceu, todos os despertadores do mundo decidiram trabalhar em prol do acordar para as questões de género. A moda soube escutar os alarmes nas suas propostas. Mas, e a passerelle? Quando é que esta passará a dar ouvidos, de facto, às novas possibilidades de género?
O recente desfile da Prada, durante a Semana de Moda Masculina em Milão, incluiu as propostas de primavera/verão 2016 para homem e o desfile de pré-primavera/verão 2016 para mulher. Longe de ser a primeira vez que a marca italiana faz um mix de géneros nos seus eventos, desta feita o assunto parecia querer ser levado num tom mais sério. Embora tais decisões de fundição sejam muitas vezes uma maneira fácil de abrir o lado insular da moda masculina a um público mais amplo, estas estão agora a acontecer, sobretudo, devido à efervescente discussão das fonteiras do género (ver Código Binário http://www.fashionup.pt/codigo-binario/).
E, claro está, a Prada não é caso isolado ao levar para a passerelle combinações de homens e mulheres.
Esta mistura era já defendida por Alexander McQueen na década de 90 e é uma tendência que tem vindo a ser construída ao longo das duas últimas estações, especialmente nos eventos de moda masculina.
A mais recente temporada começou em Londres com Craig Green a fazer desfilar duas modelos, pela primeira vez, na sua passerelle, explicando nos bastidores que era um gesto concebido para «honrar as seguidoras de moda feminina que já temos», revela a Dazed.
Modelos femininas surgiram ainda em Nasir Mazhar, Matthew Miller, Kit Neale, Sibling, Burberry e Coach. Já em Itália, “elas” foram vistas no desfile da Moschino e da Emporio Armani.
Este assunto não é apenas sobre a criação de momentos inesperados, dignos de partilhas nas redes sociais. A moda está a atravessar verdadeiramente uma mudança ampla no sentido da fluidez de género.
Talvez o exemplo mais óbvio disso seja mesmo a Gucci, onde a linha que divide os géneros se tem vindo a esbater pelas mãos de Alessandro Michele.
Todavia, também as marcas de designers emergentes parecem estar a abraçar a mudança, como é exemplo o nome de JW Anderson e do desfile das suas propostas para a primavera/verão 2016.
Mas há mais na moda além das marcas e respetivos designers e diretores criativos.
A Selfridges lançou a sua experiência de compras Agender este ano. Os jovens, educados no Tumblr, em vez da TV, estão já completamente alheios a esse tipo de barreiras. As revistas, as campanhas e as séries televisivas fazem também com que o sexo e o género sejam discutidos livremente.
Passaram-se décadas desde que Jean Paul Gaultier fez com que os editores de moda saíssem do seu desfile indignados com o facto de este fazer desfilar homens em saias.
E, uma vez que modelos masculinos e femininos aparecem já lado a lado nas passerelles, começa a ser cada vez mais legítimo questionar por que motivo continua a moda a segregar o género.
Tal como o tema da raça na indústria é mais do que uma mera questão de preto e branco, a divisão simplista das semanas de moda em função do género parece estar também ultrapassada. A tendência será mesmo não generalizar.
Apesar de a aglutinação das temporadas ser um esforço praticamente sobre-humano, esta combinação incentivaria certamente os designers a pensarem de forma mais criativa sobre novas formas de mostrar as coleções.
E, afinal de contas a moda sempre esteve um passo à frente dos comuns mortais.
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