O design de peças pensadas para pessoas com deficiência pode revelar-se algo incrível, ainda que motive apenas um nicho de designers e marcas. Uma união perfeita entre moda e arte que resulta em criações excecionalmente funcionais. A jovem designer portuguesa Olga Noronha é uma entre os poucos que levam o seu trabalho a este território pouco explorado.
Um importante contributo neste campo chega pela Nike, de resto considerada uma das marcas líderes em inovação. Os ténis Zoom Soldier 8 foram concebidos com as limitações físicas em mente, sem descurar de uma estética cool sem esforço.
Lançados este verão, os Zoom Soldier 8 têm como principal objetivo acabar com os entraves erguidos pelos tradicionais modelos de calçado desportivo às pessoas com deficiência e, de forma a cumpri-lo, a marca trabalhou em parceria com Matthew Walzer, um adolescente com paralisia cerebral que em 2012 escreveu uma carta aberta ao gigante do desporto – pedindo por calçado desportivo acessível a pessoas com limitações físicas – que acabaria por se tornar viral.
Este é apenas um dos exemplos de que há designers que encaminham os seus esforços para derrubar barreiras mas, no final do dia, os Zoom Soldier 8 chegaram com um atraso de três anos e esta é uma preocupação de um nicho de criativos.
A maioria das marcas mainstream nunca demonstrou interesse num assunto tão importante como este, mas não estará aqui uma importante fonte de inspiração e um mercado por desbravar?
Uma das áreas mais desafiantes e inspiradoras nesta esfera será, provavelmente, o design de próteses, sendo que o desenvolvimento das tecnologias a três dimensões (3D) oferece a este respeito uma fabricação mais rápida e barata.
A Alternative Limb Project é um dos melhores exemplos nesta área, promovendo o design prostético como ferramenta de expressão pessoal e superação de estereótipos.
Criada em setembro de 2011 pela designer Sophie de OIiveira Barata a marca cria próteses com designs que as aproximam de um acessório de moda.
O contributo de Olga Noronha
A jovem designer de joalharia, nascida no Porto mas sedeada em Londres, mostra nas suas propostas uma aliança entre joalharia, anatomia e medicina e faz das próteses e ortoses verdadeiros objetos de arte usáveis.
Filha de pai cirurgião ortopedista e de mãe médica, Olga Noronha sempre esteve em contacto com materiais médico-cirúrgicos, ainda que desde sedo tivesse enveredado pelos caminhos do design.
Aos 24 anos soma já um extenso rol de exposições, de onde se destaca a mostra “Joalharia medicamente prescrita”, que esteve patente em 2013 na Galeria Municipal de Matosinhos. A jovem viu ainda uma das suas criações, o Colar Cervical de Filigrana de Ouro, integrar a exposição inaugural do Museu da Joia de Vicenza, em Itália.
Na edição “The Timers” da ModaLisboa, Olga Noronha voltou a superar-se, desta feita com um desfile solidário.
A designer colaborou com o Instituto Português de Oncologia (IPO) e levou a coleção Hair|Lucination à varanda interior da Praça do Concelho.
A Hair|Lucination enfatizou a ausência e perda de cabelo, por alopecia e efeitos secundários de tratamentos de quimioterapia e resultou em dez pares de ténis “cabeludos” – numa parceria com a Reebok – que foram leiloados terminado o desfile, revertendo o lucro a favor do IPO.
A jovem designer nasceu no Porto, em 1990, e vive atualmente em Londres. Por “Terras de Sua Majestade” Olga Noronha estuda no Goldsmiths College, onde frequenta o doutoramento, desenvolvendo a tese “To what extent can Jewellery, Science and Technology come together in relation to the human body? – Medicaly Prescribed Jewellery”, recentemente distinguida com a bolsa Design Star Consortium – Arts and Humanities Research Council (AHRC).
A inovação mantém a indústria em andamento e, ao olharem para o lado de fora da sua usual esfera de atuação, os designers podem não só mudar a vida das pessoas como também encontrar novos produtos e mercados.
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