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Menswear, o começo

Destaques / Tendências / 18 Novembro, 2015

JCrew-Fall-Winter-2015-Menswear-Collection-Look-Book-007 JCrew-Fall-Winter-2015-Menswear-Collection-Look-Book-020-800x1200 JCrew-Fall-Winter-2015-Menswear-Collection-Look-Book-022Ainda que os homens tradicionais continuem a apostar em coordenados tradicionais, o menswear – esse termo nascido na rede no final de 2010 – mostra-se cada vez mais apto a saltar barreiras através do rasgo criativo de homens (e mulheres) que encontram aqui um novo habitat para o estilo masculino e o fizeram germinar em hashtags e livros.

Em 2010, as conversações sobre menswear começaram online em fóruns de moda masculina, com cada fórum dedicado a um diferente tipo de homem. Um número combinado de fatores contribuiu para este arranque: cada vez mais homens começaram a escrever em blogues (ver Os diários deles), na mesma altura em que o Tumblr criou uma “tag” para o tema (#menswear), que acabaria por se alastrar a outras redes sociais como o Instagram – que lista atualmente cerca de 7 milhões de entradas –, assinalando a chegada ao mainstream.

Na mesma altura, as grandes retalhistas de moda começaram a incluir menswear nas suas propostas – onde se destaca o contributo da americana J. Crew.

Uma a uma, as diferentes ramificações da moda masculina foram enfatizadas pelo menswear – herança americana, fetichismo denim, tradicionalismo Ivy League, estilo italiano, etc., – e tornaram-se populares. Até o look “ninja gótico” atraiu alguma atenção, graças à sua apropriação pelo rapper Kanye West.

Hoje, em todas as ruas, há um coordenado de homem com toque de menswear: uma bolsa Filson, umas calças pelo tornozelo, sapatos de camurça com atacadores coloridos, blazer curto ou uma camisa de flanela com um irónico número de bolsos.

Nas mesmas ruas, passeiam também homens desesperados por manter a sua extravagância, vestidos pela Internet e com intenções de serem partilhados. Os dois podem até fundir-se.

 

Estilo à cabeceira

Olhando para trás, torna-se óbvio que o menswear é um conceito mais vasto, muito para lá das fronteiras da moda. No seu novo livro “True Style – The History & Principles of Classic Menswear” (publicado em setembro último), o escritor de moda G. Bruce Boyer, que detém saber enciclopédico sobre a história da moda masculina e é considerado um ícone de estilo, coloca a cultura atual do menswear numa perspetiva histórica. Situando as raízes do uniforme masculino tradicional no século XIX, quando os homens «abandonaram as sedas e os cetins, casacos bordados, perucas e sapatos sumptuosos em prol de fatos de lã de corte simples e cor soberba», explicou ao The New Yorker. Este movimento em direção à simplicidade foi político: os homens adotaram um uniforme com «ligações à democracia liberal».

As mulheres, acrescentou Boyer, renunciaram à beleza em menor escala, porque ainda podiam usar tecidos nobres, como o veludo, sem culpas; mas os homens, em contraste, foram forçados a «suprimir as suas almas poéticas e esconder a sua luz» debaixo de pesadas roupas.

Nesta perspetiva, a cultura de menswear é parte de um movimento mais largo, no qual os homens procuram a beleza, poesia e aristocracia sem trair os ideais igualitários que, pelo menos em teoria, definem a masculinidade moderna.

No livro “True Style”, o autor vai alternando entre referências ao estilo das elites (realeza incluída) e aquilo que chama de roupa do povo, como o denim e botas de trabalho.

Nesta ideia, evoca o clássico dilema do estilo masculino: os homens acabam por ter sempre de escolher entre o ar exagerado e o desleixado, por consequência, entre uma atitude snobe ou uma expressão rebelde.

Aqui é posta em relevo uma das principais inovações do #menswear: roupas simples executadas de forma luxuosa. Os céticos dirão que o menswear foi criado como uma nova forma de vestir homens ricos. A opinião contrária sustenta que o menswear minou a hierarquia da moda masculina. Boyer escreve para homens que se preocupam com roupas; e esses, obviamente estão em minoria.

Em “Buttoned Up: Clothing, Conformity and White-Collar Masculinity” (com publicação a 1 de dezembro), a socióloga Erynn Masi de Casanova explora algumas ideias na perspetiva dos homens que têm o seu guarda-roupa escolhido pelas mulheres e namoradas. O livro é baseado em entrevistas com um grupo diversificado de 70 homens de “colarinho branco” de cidades como Nova Iorque, São Francisco e Cincinnati.

Estes homens que nunca ouviram falar de #menswear tentam não pensar muito sobre o que vão vestir. Ainda assim, defende Masi de Casanova, é uma decisão significativa: ao escolherem não se preocupar com a moda, estes homens estão a exercitar «o privilégio da masculinidade hegemónica» dizendo que, de facto, o seu aspeto não importa, deixando implícito que chegaram àquela posição com muito trabalho e não pela sua classe social. Por outras palavras, vestir sem esforço é, também, uma demonstração de poder.

A socióloga e escritora analisa ainda no seu livro que os homens de cor e os homossexuais presentes na amostra mostram-se mais confortáveis do que os homens brancos e heterossexuais no que diz respeito a falar e pensar sobre roupas e moda – provavelmente, aponta a autora, prende-se com o facto de serem já julgados por outras razões. Também usam com mais à vontade a palavra “moda” – os homens brancos recorrem mais ao termo “estilo” – e estão mais dispostos a apresentar-se como “metrossexuais”.

A verdade é que, em última análise, os homens mais masculinos, também não usufruem do privilégio de uma seleção livre no seu vestuário: surgir num coordenado mais extravagante no local de trabalho, por norma, redunda numa reprovação dos colegas. Nesses ambientes, o uniforme de menswear, composto por um blazer curto, camisa de flanela, skinny jeans pelo tornozelo e sapatos oxford sem meias, ainda experimenta considerada resistência.

Mas o menswear tem procurado afirmar-se, até no horário laboral. Um dos efeitos da sua procura de autenticidade prende-se com a nostalgia – catalisada pela valorização das redes sociais por tudo o que é vintage.

Nos últimos anos, por exemplo, os entusiastas do menswear, desenvolveram particular fascínio pelo estilo italiano; homens como Gianni Agnelli, o desaparecido presidente da Fiat e o homem mais rico de Itália, tornaram-se ícones de estilo. Ao mesmo tempo, porém, a bíblia do movimento menswear, um livro chamado “Fuck Yeah Menswear” (lançado em 2012 como ramificação do blogue com o mesmo nome), da autoria de Kevin Burrows e Lawrence Schlossman, é escrito num diálogo com os “tweets” (publicações na rede social Twitter) de Kanye West.

Em forma de resumo: ser homem, hoje, é uma mistura entre o mais clássico dos estilos e a sugestão mais “trendy” do Tumblr. E, em última análise, o menswear tem vindo a contribuir de forma gradual para que tudo isto seja cada vez mais interessante.

 



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