Ainda que Nova Iorque seja imortalizada pelas artes como a cidade onde todos os sonhos se realizam, Londres mostra-se hoje como um importante repositório de mentes criativas e incubadora onde as inspirações e ideias se materializam em coleções e marcas. A Marques’Almeida encontrou por “terras de sua majestade” o território fértil para o seu denim e, como Marta Marques e Paulo Almeida, muitos designers, fotógrafos e modelos desabrocham o seu talento nesta capital.
Depois das lojas lendárias da capital britânica (ver Moda entre quatro paredes), a revista i-D falou com alguns criativos – entre a China e Portugal – para tentar decifrar o “apelo londrino”: a liberdade é regularmente citada.
O designer chinês Ryan Lo mudou-se sozinho para Londres há 10 anos, para estudar no London College of Fashion, depois de ter sido rejeitado três vezes pela Central Saint Martins. Eventualmente, acabaria por superar a rejeição numa cidade que considera promover a liberdade de expressão. «As pessoas têm a liberdade de fazer ou vestir o que quiserem», aponta, acrescentando que o seu espaço favorito na cidade é a Hayward Gallery. «Tem sempre as melhores exposições, de Tracey Emin a Carsten Holler», resumiu o designer.
«Mudei-me para aqui por amor – por um rapaz! A relação acabou rapidamente, mas depois apaixonei-me por Londres e acabei por ficar», conta a diretora criativa da Kéji Katie Green, sobre a escolha feita também há 10 anos, quando trocou a morada de Hong Kong por Londres.
Bem mais perto da capital britânica, o fotógrafo irlandês Leonn Ward foca a proximidade necessária para visitar a família e o distanciamento vital para progredir. «Ao crescer na Irlanda, Londres sempre surgia como um daqueles locais excitantes, mas próximos de nós», explica. «Estava na distância certa para voltar a casa e ver a família mas, também, para promover uma diferença considerável na minha vida», acrescenta.
Também nas redondezas, o designer escocês Charles Jeffrey rumou a Londres para perseguir o sonho da moda. «Em adolescente era obcecado pelos The Horrors, por Gareth Pugh, pelo coletivo de arte Wowow! e pelos Boombox e costumava ver tudo via computador, no MySpace. Isso e a Central Saint Martins trouxeram-me até aqui», afirma.
A Londres chegam, também, criativos de outras capitais de moda europeias. A designer Faustine Steinmetz chegou de Paris, no rasto da onda nu rave (termo usado para descrever um género musical que mistura elementos do rock, indie e música eletrónica). «Mudei-me para cá pela desaparecida Louise Wilson! Trabalhava como estagiária na Henrik Vibskov com o Craig Green e ele estava sempre a falar-me de uma professora que passava a vida a gritar com os seus alunos e que fazia questão que eles soubessem o quão horrível era. E achei que ela devia ser fantástica! Tinha de dar o meu melhor para ser ensinada por ela», recorda a designer. «O que também me influenciou para me mudar para aqui foi a cena nu rave», acrescenta.
De Nova Iorque chegou o modelo Jarrod Kentrell, em busca de novas experiências. «Sempre tive vontade de experimentar Londres. Adoro a criatividade e a possibilidade de arriscar em Londres», revela Kentrell.
Vaga portuguesa
Desde os descobrimentos, os portugueses souberam mostraram a sua predisposição para ver ao longe as fronteiras do país, alargando continuadamente a linha do horizonte. A fileira moda nacional não descura a memória das naus e desde cedo ambicionou viajar para fora de portas. E, a partir de 2009 a dupla de designers Marques’Almeida tem trilhado o seu caminho de sucesso em Londres (ver Perfeita imperfeição).
Marta Marques e Paulo Almeida iniciaram a sua incursão na moda em Portugal, no Ex-Citex (atual Modatex), tendo depois estagiado na capital britânica, no atelier de Vivienne Westwood (Marta) e na marca Preen (Paulo).
Os jovens designers acabariam por concluir os estudos na Central Saint Martins e, em Londres, ergueram a sua marca de pegada denim com inspiração nos anos 1990. Em 2011 integravam o calendário da London Fashion Week.
Sobre o que os inspira na cidade, a dupla distinguida em maio último com o prémio LVMH (ver Marques’Almeida conquista LVMH) cita o seu apartamento, o seu estúdio, os seus desfiles e as pessoas. «O tempo cinzento e miserável e a boa comida internacional», também fazem parte da seleção.
Anne Sophie Costa é make-up artist e também é produto nacional exportado para Londres. Nasceu em Lisboa, estudou design gráfico no IADE e, atualmente, no seu currículo constam editoriais para revistas como Another Magazine, Dazed & Confused, Elle online, Harpers Bazaar Australia, GQ Style China; uma carteira de clientes onde figuram marcas como Asos, Anthropology, House of Hackney, Marques’Almeida, M&S, Nike, Revlon, Rimmel, Schwarzkopf, Topshop, Urban Outfitters e trabalhos com celebridades como Amy Macdonald ou Ella Eyre. «Ninguém critica o estilo ou a individualidade – é exatamente o oposto. Adoro o facto de tudo ser acessível em termos de cultura. Tudo acontece em Londres», refere Anne Sophie Costa sobre o que a levou a escolher aquela cidade.
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