A mais recente contratação do mercado de primavera da moda alinha Christophe Lemaire com a Uniqlo. Lemaire será o diretor criativo do novo Uniqlo Paris R&D Centre e vai também desenhar uma nova linha para a gigante nipónica de casualwear, batizada “Uniqlo U”.
O designer francês já tem trabalhado com a marca nipónica na coleção “Uniqlo and Lemaire”, mas o novo centro de design e linha são reflexos de uma parceria muito mais profunda.
A primeira coleção Uniqlo U será revelada durante a semana de alta-costura de Paris, no início de julho. Todavia, Lemaire vai continuar a criar para a marca epónima. «Estou muito contente em receber Christophe Lemaire como membro da equipa Uniqlo. Fui uma e outra vez surpreendido com o seu talento excecional no trabalho conjunto da coleção “Uniqlo and Lemaire”. Estou ansioso para ver mais das inovações que ele inspira, e estou confiante de que a sua enorme experiência e talento vão prosperar na Uniqlo», afirmou Tadashi Yanai, presidente e CEO da Fast Retailing, empresa-mãe da Uniqlo, ao portal The Business of Fashion (BoF).
O anúncio é, de acordo com os portais da especialidade, um passo significativo para a marca e designer.
Christophe Lemaire estagiou com Lacroix, Saint Laurent e Mugler, lançando-se depois a solo numa aventura de 10 anos antes de dedicar também uma década da sua vida ao crocodilo Lacoste. De seguida, o designer ressuscitou a marca epónima enquanto sucedia a Jean Paul Gaultier como diretor criativo da Hermès. Depois de quatro anos na casa de luxo francesa, Lemaire saiu com o desejo de se concentrar nos seus negócios. Assim, quando o criador de moda assinou primeiramente com a Uniqlo, a indústria esperava pouco mais do que uma colaboração efémera o suficiente para que Lemaire não se afastasse do seu caminho a solo. Na semana passada, provou-se que se tratava de um compromisso a longo-prazo.
«Claro, estava preocupado em dividir a minha atenção, sobretudo numa altura em que a atenção se voltava para a nossa marca, mas senti o apoio de Yanai e sabia que podia confiar neles para não comprometer a qualidade», sublinha o designer, que foi rápido a salientar que a decisão não teve uma contrapartida financeira (embora ironicamente admita que há seis anos, as coisas estavam tão más que poderia ter sacrificado a marca própria).
Em vez disso, a oportunidade veio concretizar um sonho de longa data de Lemaire. «A oportunidade de desenhar boas roupas por um preço acessível foi o que me animou sobre a Lacoste no início», explica. «E quando a Uniqlo me contactou depois de eu ter saído da Hermès, foi a mesma coisa», acrescenta, destacando que o Japão tem «um incrível sentido de precisão e honestidade na qualidade. Mesmo a coisa mais simples terá a melhor qualidade, independentemente do preço».
O conceito não é inteiramente novo. Há cinco anos, Jil Sander e a Uniqlo embarcaram numa colaboração semelhante, ao abrigo do nome igualmente enigmático + J. «Tivemos isso em consideração», reconhece Lemaire. «Mas a U é um pouco mais democrática. O maior problema era desenhar coisas que fossem essenciais o suficiente para serem intemporais e compreendidas por todos. Básicos elevados, como lhes chamo. A nossa ambição é preencher a lacuna entre o que é moda e o que é “normal”. Sei que a palavra “normcore” é usada em demasia, mas há algo sobre a normalidade que considero muito interessante», revela.
Há 12 pequenos “u’s” no “U” do logotipo, representando o facto de a coleção ser produzida por uma equipa.
Na verdade, são 15 elementos no efetivo que desenvolve homem, mulher, malhas, calçado e acessórios de couro. «Demorou seis meses para recrutar as pessoas certas que entenderam que aquilo era design industrial, não é falso luxo ou moda falsa», conta Lemaire. «A ênfase tem estado na equipa, desde o primeiro esboço até à campanha publicitária. Nós somos uma espécie de unidade de comando, ou uma start-up. Quero mostrar que tentar fazer o produto perfeito envolve muito trabalho», refere, acrescentando que é o «líder neste projeto», mas que precisa «de uma troca».
O facto de o nome de Christophe Lemaire não aparecer em lugar algum na etiqueta está a levantar várias questões, mas o designer explica que foi intencional. «Isto é mais profundo do que uma colaboração», advoga.
Na sua marca epónima, o intercâmbio criativo sempre aconteceu com a codesigner Sarah-Linh Tran (companheira de vida e obra de Lemaire), que não está envolvida na Uniqlo U. Os seus designs plácidos e sensuais continuam a manter um público fiel e a marca é atualmente vendida em 170 lojas à volta do globo. É definitivamente mais artesanal, contrária ao design industrial.
A U, por sua vez, estará disponível em toda a rede global da Uniqlo – um total de 1.774 lojas – com algo entre 500.000 e 1 milhão de unidades de cada estilo. Isto levanta a questão sobre que tipo de ajustes e compromissos Lemaire teve de fazer.
«Foi completamente desconhecido, como um território virgem», admite. «A Uniqlo é uma grande marca com uma certa forma de trabalhar que realmente não entendi no início. A forma como os comerciantes concebem o design é diferente do meu background… Mas comprometer? Não havia nada que eu não estivesse disposto a fazer. Quando se começa a trabalhar num determinado conceito, o ponto de preço é, naturalmente, um problema. Então, sabemos desde o início que tem de ser mais algodão do que lãs caras. Mas, para ser honesto, fiquei muito surpreso porque não tive de fazer concessões», revela Christophe Lemaire ao BoF.
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