A notícia chegou durante a tarde de ontem, ainda sem declarações por parte da casa de moda nem do seu criador. Alber Elbaz estava de partida, quebrando os laços de 14 anos com a Lanvin. Teria já despejado o escritório na Rue du Faubourg Saint-Honoré na noite de terça-feira e, a coleção apresentada na semana de moda parisiense em setembro, constituiria assim a última por si assinada. A ideia de que uma possível “dança de cadeiras” entre Dior e Lanvin esteja a ser preparada paira sobre a Cidade Luz.
Os números são reveladores. Ao contrário de designers como Raf Simons – que anunciou a saída da Dior a 23 de outubro (ver Adeus, Simons) –, que circulou durante três anos pelos corredores da casa erguida por Christian Dior, ou de Alexander Wang, que emprestou a sua criatividade à Balenciaga durante igual período de tempo, Elbaz contabilizou 14 anos numa casa de moda que soma já 125 primaveras (ver Lanvin adentro).
Em comunicado divulgado pelo portal de moda Business of Fashion (BoF), Alber Elbaz absteve-se a entrar em conflito direto com a dona da Lanvin, Shaw-Lan Wang, ou com a CEO, Michèle Huiban, mas fez passar a ideia de desconforto.
«No momento da minha saída da Lanvin, em seguimento da decisão da acionista maioritária da empresa, gostaria de expressar a minha gratidão a todos aqueles que trabalharam apaixonadamente comigo na renovação da Lanvin nos últimos 14 anos; expressar o meu afeto aos meus colegas maravilhosos que me acompanharam nos ateliers da Lanvin e que enriqueceram e apoiaram o meu trabalho. Juntos, conseguimos alcançar o desafio criativo apresentado pela Lanvin, restaurar o seu esplendor e fazê-la regressar à sua posição por direito entre as casas da moda de luxo da França», referiu Elbaz. E endereçou ainda desejos de prosperidade à casa: «Desejo à casa Lanvin o futuro que ela merece entre as marcas de moda francesas e espero que encontre a visão de negócio de que necessita para caminhar na direção certa rumo ao futuro».
Alber Elbaz detém 10 % da Lanvin, o que terá representado considerável peso na sua manutenção dentro da casa, desde 2001.
Em 2014, a marca apresentou receitas no valor de 250 milhões de euros, mas o crescimento rápido de outrora tem vindo a abrandar, o que é visto como um sinal de necessidade de apoio adicional, possivelmente oferecido por um grupo de luxo.
A Lanvin não se mostra, porém, em conflito com o criador, referindo em comunicado que «gostaria de lhe agradecer pelo capítulo que escreveu».
No seguimento do anúncio, a especulação em torno da possível saída de Alber Elbaz para a Dior tem animado os portais de moda internacionais, que já em 2012 especulava essa possibilidade, depois de John Galliano ter sido demitido da casa de moda.
Raf Simons foi quem sucedeu o turbulento Galliano, mas agora que o criador anunciou que não iria renovar o contrato com a marca, o nome de Elbaz volta a emergir.
Alber Elbaz foi levado para a Lanvin com o objetivo de transformar e modernizar a imagem da marca de luxo. «Renovar a bela adormecida», terá sido esse o pedido de Shaw-Lan Wang.
O designer contribuiu significativamente para o retumbante sucesso da marca ao incutir-lhe uma visão moderna, elegante e ultrafeminina, sem nunca ter deixado de respeitar o ADN da casa criada por Jeanne Lanvin.
Para a imprensa, é ainda difícil imaginar o criador no comando dos destinos de uma marca como a Dior, com uma forte identidade e constantemente nos holofotes da indústria – algo que, desde sempre, Alber Elbaz tem evitado.
Para Vanessa Friedman, diretora de moda no jornal The New York Times, este encadeamento de entrada e saída de diretores criativos de imponentes casas de moda consubstancia, porém, uma tendência potencialmente destrutiva.
A ideia vigente é que a casa é o que realmente importa e o designer está lá apenas para servi-la. Isto transforma, segundo Friedman, o trabalho criativo num mero contrato, ao invés de uma relação duradoura «na saúde e na doença».
Entretanto, a Dior e a Lanvin remetem-se ao silêncio no que diz respeito ao anúncio de sucessores.
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