A indústria que havia gritado a fluidez de género aos quatros ventos nas últimas estações, foi precisamente a mesma que no mais recente calendário de desfiles de pronto-a-vestir feminino se ergueu em defesa do cor-de-rosa.
Em Paris, no alinhamento de desfiles dedicado à primavera-verão 2017, a casa Balenciaga, orquestrada pelo diretor criativo Demna Gvasalia, celebrou um rosa altivo em vestidos pelo joelho e de gola alta, que desvaneceu depois para o lilás num híbrido sapato/meia.
Já na Céline, o tom foi usado por uma supermulher, com vestidos de capa na mesma sombra de cor-de-rosa.
Na italiana Valentino, debaixo dos frescos e lustres do teto do Hôtel Salomon de Rothschild, vestidos na linha do joelho, de gola alta, drapeados e (novamente) numa proposta híbrida capa-vestido salpicaram a passerelle de rosa.
Na Givenchy, nos jardins do Museu de História Natural, foi o imaginário do ballet que serviu de bebedouro, em vestidos de gola alta com franjas de seda e mangas assimétricas, enquanto a Hermès brindou ao fúcsia, num vestido longo e cortado em viés para um movimento suave.
Para a segunda coleção Fenty x Puma, a cantora Rihanna inspirou-se em Marie Antoinette e, como resultado, houve várias analogias entre o filme de Sofia Coppola sobre a vida da malograda rainha francesa – incluindo a paleta. O cor-de-rosa dominou as propostas que resgatavam a memória de Marie Antoinette e a atualizavam na era do athleisure.
À margem do rosa, se o foco for a silhueta dos vestidos, podem também ser encontradas notas de feminilidade nas coleções da Chloé, Loewe, Stella McCartney e, sobretudo, no slogan “We should all be feminists” que Maria Grazia Chiuri fez desfilar na passerelle da Dior (ver Uma troika de estreias em Paris).
Em última análise, os vestidos cor-de-rosa fazem parte de uma nova ordem mundial, deixando de obedecer a regras tradicionais. Estes não são vestidos de cocktail, vestidos de festa ou vestidos românticos. São vestidos carregados de referências históricas, de Marie Antoinette a Elsa Schiaparelli, e que não temem as sucessivas estações dominadas por peças com aversão a conotações de género, associando, com vaidade, o rosa à mulher.
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