O que uma estrela da pop veste quando está em palco durante as tours é parte integrante de toda a experiência de concerto. Basta, para isso, recordar os exemplos de Miley Cyrus e do apoio dado pelos seus figurinos ao consumo de marijuana durante a “Bangerz”, os coordenados guerreiros de Madonna durante as performances de “Rebel Heart” ou os looks impactantes de Britney Spears no seu regresso com “Britney: Piece of Me”. Até mesmo o streetwear de Kanye West envolve um articulado – e nem sempre simples – processo de design.
Marina Toybina, mulher responsável pelas tours “Red” de Taylor Swift, “Reflection” do grupo Fifth Harmony e “Prismatic” de Katy Perry, explicou ao portal Fashionista que o primeiro passo é perceber o estilo do artista. A figurinista passa, então, à fase seguinte, que é conhecer o artista em particular, o palco e respetivo tema e, também, a equipa de coreografia e o alinhamento musical, para que tudo esteja em sintonia. Depois começa o desenho dos figurinos.
A figurinista Arianne Phillips, que trabalhou com Madonna em seis tours, incluindo a recente “Rebel Heart” (ver O sangue novo de Madonna), colabora com o figurinista conceptual Phillip Boutte, que coloca todas as ideias no papel. «Estou constantemente a pensar sobre a melhor forma de representar as diferentes texturas de tecido, diferenciar costuras, completo contra opaco, e determinar a importância do movimento nas proporções», explicou Boutte. Os esboços são, então, apresentados a Madonna.
Alguns artistas contratam, também, um stylist. Para o espetáculo de Las Vegas “Britney: Piece of Me”, Britney Spears recrutou a figurinista Soyon An para gerir todo o processo de design.
An trabalhou diretamente com designers como Nicolas Jebran e Bao Tranchi, que apresentavam desenhos e criações de palco já prontas. «Percorro todos os looks com o designer e explico o que estamos à procura, o tipo de cortes – o que Britney gosta e não gosta – e eles depois propõem opções para cada uma das performances», explicou.
Sem surpresa, Kanye West é um artista que gosta de participar nos processos que dão origem ao figurino das tours. «Às vezes, ele faz um design do zero, um esboço de uma ideia e diz apenas: “Faça isto”», conta o figurinista Erin Hirsh, que trabalhou com a Yeezy para performances da tour “Glow in the Dark”.
A importância do conforto
Os materiais e estrutura das roupas não são apenas sobre estética e teatralidade – são a chave para ajudar o artista a atuar, dançar e, mais importante, permanecer confortável em palco.
Todos os designers com quem o Fashionista falou apelam ao elastano ou à fabricação personalizada para alcançar a dose de conforto necessária. Toybina, por exemplo, recorre muitas vezes à sua imaginação.
Idealmente, o designer pode construir um fato em cima de uma base elástica mas, por vezes, vê-se obrigado a atuar no terreno e, não raras vezes, a experimentar uma abordagem “tentativa e erro”. Refira-se a título de exemplo o trabalho de Rubin Singer, que desenhou o visual de Beyoncé para o evento da Superbowl de 2013. Singer encontrou-se com a cantora e reduziu as três principais escolhas ao conhecido bodysuit de couro. «Fiquei a bater-me depois da primeira prova», revela, porque os ombros arquitetónicos do coordenado restringiam completamente qualquer movimento da parte superior do corpo, o que obviamente não deixaria Beyoncé confortável em palco.
Mas a mulher de Jay Z não quis mudar o design. Singer desenvolveu depois a peça, com a introdução de diferentes malhas, elásticos, pormenores que se movessem e estruturassem. «Tornou-se numa das peças mais complexas que já desenvolvi», afirmou Singer.
Os problemas de guarda-roupa que algumas roupas podem colocar, porém, toda a performance em risco – algo que poderia ter acontecido, por exemplo, com o jumpsuit de folhas de marijuana impresso a 3D de Miley Cyrus. No entanto, Phillipe e David Blond da The Blonds – que também criaram figurinos de tours de artistas como Beyoncé, Katy Perry, Nicki Minaj e Selena Gomez – explicaram que usaram «elásticos de swimwear para estabilizar as aberturas de perna. Mas é principalmente o corte e a adaptação ao corpo que determinam o fitting».
O barulho das luzes
A The Blonds salienta ainda como os tecidos e as lantejoulas e cristais bem colocados podem ser usados para atrair a atenção do público. «Por exemplo, se a coreografia é mais sobre o braço e a extensão da perna, destacamos essas áreas com cor ou cristais», desvendam os designers. «Se a peça é para uma música mais calma podemos focar o rosto com detalhes no colarinho sobre um tecido mais escuro e sem brilho».
Por vezes, os figurinos das atuações podem abraçar a tecnologia, o que representa uma nova curva de aprendizagem para o designer. A tour “Prismatic” de Katy Perry envolveu bailarinos com moicanos com luzes néon. «Tivemos que descobrir como usar o conteúdo de fibra para alternar as cores no palco», revelou Toybina.
Já as mudanças rápidas de roupa entre músicas, por exemplo, requerem uma coordenação precisa com o coreógrafo e podem até mesmo determinar como um look é desenhado. Isso é especialmente verdadeiro quando um coordenado envolve até 10 camadas, como Toybina tem experimentado.
Os truques para acelerar a troca de roupas incluem o recurso ao Velcro e fechos industriais. As tours também costumam empregar “dressers” qualificados, como o homem de eleição de Madonna, Tony Villanueva, para agilizar o processo.
Pés de palco
«Os botins e as opções over-the-knee são os estilos mais solicitados, a par das sapatilhas», revelou o designer Giuseppe Zanotti, sobre a importância do calçado. Zanotti desenvolveu já calçou, Rihanna. «Sobretudo para grandes performances, são preferíveis solas de borracha – a artista precisa de se sentir confiante e segura enquanto dança», explica.
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